quinta-feira, 30 de abril de 2009

Empada de galinha da Rosa (a melhor do mundo!)


A Rosa entrou para a minha família há exactamente sessenta anos e um mês, no dia em que fez dezassete anos. Era loira, branca, linda de morrer e muito, muito pobre. Chegou a casa das minhas quatro tias-avós (todas solteironas) para servir. Nesse tempo ser criada era um modo de vida, e a Rosa é a melhor criada do mundo. Aliás, ela ofende-se profundamente se lhe chamam empregada: "empregadas são estas brasileiras de agora, menina, que não sabem fazer nada, nem limpar, nem cozinhar, nem engomar uma camisa e não têm respeitos aos patrões! Eu cá sou uma criada e disso já não há!"

Quando a última das minhas tias-avós morreu, a Rosa passou uns anos na nossa casa, para deleite dos meus pais (o meu Pai pela gula e a minha Mãe pelo descanso), mas assim que a minha irmã mais velha anunciou que se ia casar, a Rosa participou imediatamente que ia para casa dela. E a Rosa faz o que quer, sempre fez, e ninguém se atreve sequer a discutir com ela. E foi, claro, para grande desgosto nosso. Ainda hoje a Paula diz que foi o melhor presente de casamento que teve. A Rosa criou o meu Pai e os meus tios, a mim e aos meus irmãos, e os meus sobrinhos todos. E diz para o Pedro se despachar (o mais velho e único com casamento no horizonte) porque ainda quer ir para casa dele criar a quarta geração. Tem 77 anos, feitos há um mês, mas está aí para as curvas.

Cozinha como ninguém. Passa a ferro como eu nunca vi. Faz rendas lindas de morrer (fez pelo menos metade do meu enxoval) e casaquinhos de bebé lindos, sempre azuis, cor-de-rosa ou brancos. E não dá uma receita sem aldrabar qualquer coisa, para preservar o património culinário da família. Mesmo a nós, não dá uma receita sem nos recomendar mil vezes que não é para dar a ninguém. Se ela sonhasse com este blog, eu estava bem tramada...

Esta receita, tirada a ferros, dá para dois pirex médios ou um muito grande:

Massa:

250g de banha
800/900g de farinha (é ir vendo)
2,5 dl do caldo do recheio morno
sal
2 gemas para pincelar

Recheio:

1 galinha das boas, aos bocados e sem pele
10 grãos de pimenta preta
100g de toucinho alto e branco
1 cebola cravada com uns 10 cravinhos
1 ramo de hortelã
4 raminhos de alecrim
1 raminho de cebolinho
2 c. sopa de vinagre
sal

1 cebola picada
azeite para refogar
raspa de noz moscada
pimenta preta moída de fresco
sumo de 1/2 limão
1 cháv. do caldo da galinha
6/7 gemas
1 c. sopa de farinha
2 c. sopa de vinagre
sal

Põe-se a galinha a cozer em água com a cebola, o vinagre, os temperos e sal. Escorre-se, coa-se o caldo e aproveitam-se 2,5 dl para a massa e mais uma chávena para o recheio.

Entretanto faz-se a massa: deita-se a farinha na pedra da mesa, abre-se um buraco e junta-se o caldo morno, a banha aos bocadinhos e o sal. Amassa-se, não muito, até ficar boa para tender. Descansa enquanto se acaba o recheio.

Num tacho grande refoga-se em azeite a cebola picada, mais a cebola que se usou no caldo, sem deixar alourar. Junta-se a carne desfiada e o toucinho picado que se usou no caldo, a noz moscada, a pimenta e o sumo de limão. Noutro tachinho deita-se a c. sopa de farinha, as 2 c. sopa de vinagre, 1 chávena de caldo e as gemas batidas. Deixa-se engrossar e junta-se ao refogado. Prova-se de sal.

Estende-se a massa, dividida em duas, e forra-se um pirex grande (ou dois médios). Junta-se o recheio e tapa-se com o resto da massa. Abre-se um buraco no meio (a chaminé) e decora-se com as sobras de massa (a Rosa costuma fazer uma trança de massa para pôr à volta e folhas recortadas. Pincela-se com as gemas batidas e assa-se em forno médio.

Dá trabalho, pois dá. Mas é a melhor empada de galinha do planeta!
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quarta-feira, 29 de abril de 2009

Green Day: hoje é tudo verde :)

A Mary inventou um desafio giríssimo: em dias marcados previamente (um por quinzena), todos os blogues culinários que quiserem participar devem postar uma receita da cor escolhida. Hoje é o Dia Verde, a minha primeira participação. E, em vez de uma receita só, decidi fazer um almoço leve (a chamar o Verão) e todo ele bem verde, claro.

Começo por uma bela
Caipirinha
1 limão verde* (grandinho)
1 c. sopa de acúcar branco
cachaça*
gelo em cubos
1 copo baixo e grosso
1 palhinha cortada ao meio
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Corto os limões em dois no sentido do veio central, mas passando um pouco ao lado. Em seguida corto cada metade em duas, retirando o veio central, e em mais duas. Deito os oitavos de limão no copo, cubro com o açúcar e com um pingo de cachaça. Esmago bem com um pilão de madeira (neste caso deve ser exclusivo para bebidas) ou de metal. Junto cachaça até meio do copo, mexo, para dissolver o açúcar e encho de gelo.
* ver aqui.

E ainda a condizer com o calor, uma 
Saladinha de Favas e Queijo da Ilha

1 pacote de favas congeladas pequenas
1 fatia média de queijo da ilha
azeite
sal
pimenta preta moída na altura
coentros ou hortelã

Cozo as favinhas em água com sal até estarem tenras. Gosto de as temperar enquanto estão mornas para absorverem melhor os sabores. Junto o queijo em lascas grandes. Junto o azeite e a pimenta preta moída de fresco, levo ao frigorífico uma hora e salpico coentros picados ou hortelã por cima. Sirvo fria. E um vinho verde não ficava aqui mal...

E, para acabar em beleza, um
Fool de Kiwi

1 caixinha de kiwis cortados em bocados
2 yogurtes naturais ou de aloés
1 pacote de natas Longa Vida
sumo de limão
açúcar q.b.

Bato os kiwis, os yogurtes, o sumo de limão no copo e o açúcar. Junto as natas e envolvo sem bater muito. Sirvo bem frio.
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terça-feira, 28 de abril de 2009

Salmão fresco com laranja e cachaça


Cada vez gosto mais de peixe. Não só por estar em dieta (pronto, pronto, não falo mais no assunto!), mas estes anos de Brasil a respirar mar, rio, peixe e crustáceos (estas quatro coisas eram a minha vida lá), fizeram-me apreciar cada vez mais o que vem do mar. E aprender, que eu não era muito versada em cozinhar peixe. Amanhar, escamar e destripar eram para mim pouco mais que palavrões, coisas nojentas que alguém haveria de fazer por mim na peixaria. Não sabia ainda que se faziam caldos de peixe maravilhosos com aquelas porcarias. Agora não. Os peixes, todos eles, não têm segredos para mim.

E salmão, não sendo o melhor, é o mais bonito dos peixes.

Tinha uns lombinhos de salmão no congelador à espera de inspiração. Achei-a nesta receita da Elvira, um dos meus blogs de referência. Não a fiz exactamente igual, mas muito parecida (eu devo ter uma impossibilidade psicológica qualquer que me impede de seguir uma receita à risca...), mas ficou uma delícia.

1 alho francês grande bem picadinho
1 cebola média bem picadinha
1 dente de alho bem picadinho
azeite q.b.
sal e pimenta
1 c. sopa de salsa picada
sumo de 1 laranja da Bahia
1 c. sopa de cachaça
1 embalagem de lombinhos de salmão congelados e limpos

Murchei, sem deixar dourar, a cebola e alho francês em azeite, numa frigideira, juntamente com a salsa picada, o alho e a pimenta. Juntei o sal, o sumo da laranja e a cachaça, e deixei fervinhar para evaporar o álcool. Juntei os lombinhos arrumados numa camada só, tapei e deixei suar por uns 10 minutos. Servi com um cuscuz básico, temperado só com azeite e sal, e uma salada de agrião.
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sexta-feira, 24 de abril de 2009

Flan de pimentos light

Não fiz isto hoje, mas vi uns pimentos tão bonitos no supermercado que fui à pesca da receita para a pôr aqui. É óptimo e é light. E como estou, para variar, em dieta rigorosa, apavorada pela rápida aproximação da época balnear, é este género de receitas que vão ver por aqui nos próximos tempos :(

1 kg de pimentos vermelhos
1 berinjela sem casca picada
azeite q.b.
3 dentes de alho picados
1 cebola grande picada
2 claras de ovo
1 yogurte natural
sal e pimenta

Asso os pimentos em forno quente até a pele se soltar (no Brasil fazia isto na churrasqueira; ficavam com aquele cheirinho a carvão). Enfio-os dentro de um saco de plástico para suarem, para que seja mais fácil tirar-lhes a pele. Polvilho a berinjela com o sal e deixo descansar por 15 min. Refogo os pimentos já sem pele, a cebola, o alho e a berinjela e deixo cozinhar em lume baixo por 15-20 min. Transfiro para o liquidificador e junto os ovos, as natas e a pimenta e pico tudo até ficar homogêneo. Asso numa forma untada em banho-maria, aí por 1 hora, mas depende do forno. Fica óptimo quente, como acompanhamento de carnes vermelhas, ou morno/frio, só acompanhado com uma salada para um almoço leve, e até como entrada, servido com torradinhas.
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segunda-feira, 20 de abril de 2009

Vieira do mar

Não, não é uma homenagem à minha musa... mas podia ser.

1/2 kg de vieiras limpas
sal e pimenta preta moída de fresco
sumo de meio limão
farinha q.b.
1 c. sopa de azeite
2 c. sopa de vinho branco
rúcula ou agriões para servir

Lavam-se as vieiras em água fria e escorrem-se muito bem em papel absorvente. Temperam-se de sal, pimenta e uns pingos de limão e passam-se por farinha, tirando o excesso. Numa frigideira grande, aquece-se o azeite e alouram-se as vieiras, sem as sobrepôr, uns 3 minutos de cada lado, com muito cuidado para não cozinharem demais (ou emborracham, como os camarões). Retiram-se para uma travessa e junta-se o vinho à frigideira, deixando reduzir uns minutos. Deita-se o molho sobre as vieiras e servem-se logo sobre rúcula ou agriões, com mais uns pingos de limão, se se quiser.

Foi o meu jantar e estavam deliciosas. O Diogo comeu um bife a seguir :)
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domingo, 19 de abril de 2009

Batido de ananás com menta


Uma das coisas de que francamente tenho saudades do Brasil é dos sumos naturais que a Paizinha me fazia todas as manhãs. As frutas abundam, como toda a gente sabe, e são excelentes. É até estranho pensar que as sobremesas tradicionais brasileiras são sempre à base de ovos e leite condensado... uma pena.

1 ananás grande e maduro em bocados
6-8 folhas de menta
açúcar, se precisar
água q.b.
cubos de gelo

Bati tudo no liquidificador, saí para a varanda logo de manhã para dar as boas-vindas ao sol que voltou hoje e bebi quase metade :)))
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quinta-feira, 16 de abril de 2009

Lombinhos de tamboril no vapor com tomilho e limão

Voltei à dieta e à falta de imaginação para variar de saladas e grelhados. Hoje fiz uma variante, que saiu óptima, e finalmente usei a "panela" chinesa para cozinhar a vapor. É facílima de usar, só tem de ter o tamanho certo para encaixar na wok sem chegar à agua a ferver.

2 lombinhos de tamboril (dos congelados)
sumo de meio limão
tirinhas de casca de limão (só da parte amarela)
folhas de tomilho fresco (do jardim de cheiros da minha irmã, o meu ainda nem nasceu)
sal e pimenta branca

Temperei os lombinhos de manhã com o sumo do limão, as tirinhas da casca, o tomilho, o sal e a pimenta, e deixei-os a marinar. Deitei dois dedos de água na wok e montei o cesto por cima, sem tocar na água. Aconcheguei os lombinhos na rede tapei e deixei cozer no vapor por 20-25 minutos (eram altos). Servi com salada de agrião (para mim) e arroz de cenoura (para o Diogo).

Facílimo, saborosíssimo e quase sem calorias. Ah!, e chique!
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terça-feira, 14 de abril de 2009

Omelette de espargos verdes

Depois do fim-de-semana prolongado em terras alentejanas (já para lá voltava...), em que se comeu e bebeu tanto que engordámos todos (éramos quase 30, em 2 casas) uns bons kilos, é altura de ter vergonha na cara, aka voltar à dieta, ou pelo menos comer coisas levezinhas. Por estes dias tenciono comer muitas saladas e pouco mais. Mas o Diogo não vai em cantigas destas. Para o calar, faço muitas omelettes e dou-lhe arroz, que ele adora, e despacho-me em 10 minutos das tentações da cozinha.

3 ovos
1/2 molho de espargos verdes
1 dente de alho
2 c. sopa de leite
sal e pimenta
azeite q.b.

Lavo os espargos e raspo os caules, cortando-lhes um terço do comprimento. Ato-os e fervo-os em água por 2 minutos. Corto-os em bocadinhos e deito-os na wok com o alho picado e o azeite, para os refogar em lume baixo até estarem tenros. Bato os ovos com o leite, o sal e a pimenta e junto à wok. Depois é jeito de pulso para que a omelette se enrole sobre o recheio e fique redondinha e dourada.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Fui

... de fim de semana.
Boa Páscoa!
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segunda-feira, 6 de abril de 2009

Gourmets


A comida para gourmets tem obrigatoriamente de ser cara? Um artigo interessante do Público, apesar de ter uns meses, desmistifica essa ideia. Ora vejam.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Divagações com massa filo

Nunca tinha usado massa filo. Onde eu vivia no Brasil não se encontrava em parte nenhuma (nem daquelas massas para tartes prontas, quanto mais filo), por isso estava desertinha para experimentar.

Truques que aprendi na net:
  1. Tirar a massa do frigorífico e abrir o pacote à última da hora, pois seca em minutos e fica muito quebradiça.
  2. A massa doura em menos de 5 minutos, mesmo com o forno no mínimo. Por isso, para aquecer bem o recheio, mantive o forno com a porta entreaberta, usando uma caixa de fósforos.
  3. Sirvam em pratos grandes, ou vão andar a apanhar bocadinhos de massa pela casa toda :)
Como o pacote trazia uma data de folhas, acabei por fazer duas receitas com o que havia em casa, uma doce e outra salgada, e saíram muito boas.

Trouxinhas de cogumelos e feta:

1 embalagem de queijo feta, em cubinhos
1 frasco de cogumelos laminados
1/2 pacote de mascarpone
piri-piri
titinhas de alho-francês para atar as trouxinhas
manteiga derretida para pincelar a massa

Fiz 8 trouxinhas, intercalando 4 ou cinco quadrados de massa de aproximadamente 20 x 20 e usando forminhas de empada para as manter direitas. Deitei cogumelos no fundo, feta por cima, cobri com uma colherada de mascarpone e salpiquei de piri-piri. Entrouxei, à falta de melhor termo, e atei com a tirinha de alho-francês. Pincelei com mais manteiga por fora e assei por dez minutos, para dar tempo de derreter o recheio e dourar. Ficaram uma beleza.

Tarte de maçãs reineta, frutos secos e canela:

4 maçãs reinetas grandes, em cubinhos pequenos
1 pacote de frutos secos variados, picados grosseiramente
1 cháv. de passas
3 c. sopa de manteiga gelada, em bocadinhos
4 c. sopa de açúcar
canela q.b.

Esta fiz aberta, numa tarteira, pincelando à mesma as folhas de massa com manteiga derretida e sobrepondo-as desencontradas. Cobri o fundo com as maçãs, os frutos secos e as passas, e salpiquei com os cubinhos de manteiga, o açúcar e a canela. Assei por uns 15 minutos, até dourar. Ficou óptima.

Para a próxima vou experimentar um recheio de maçã reineta, farinheira e sumo de limão que deve ser de comer e chorar por mais.
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